domingo, julho 27

DITOS & DITADOS - Quadra

Silveira no Ribeiro de Cunha (ao Raposo) - 2013

O Rosmaninhal se queixa 
De não ter moças formosas
Vinde à aldeia de Toulões
Onde até as silvas dão rosas

(Popular de Idanha-a-Nova - adaptado)

segunda-feira, julho 7

Memórias curtas 17 - Cantadores dos Toulões


Em Toulões, no tempo em que a dureza da jorna de trabalho era atenuada ao fim de cada dia com catares à desgarrada, protagonizados por homens com veia poética e voz de trovão, como eram o ti Zé Louro, ti Manuel da Cruz, Ti Tomás Sapateiro, entre outros, esse cantares,  acompanhados a copos de meio quartilho, ajudavam a "botar" a crise para trás das costas (e se ela era severa à época) e a encarar o dia a dia com ânimo.
Os versos que se seguem fazem parte da memória dos fàdistas dos Toulões. 
Dos Toulões os seus fàdistas
Têm fama em toda a parte
No fado são uns artistas
Pois cantar fado é uma arte

P’ra ser cantador do fado
E cantá-lo com ardor
Basta ter golas de galo
E sabê-lo todo de cor

Cantar fado à desgarrada
Não tem nada que saber
É pedir vinho à canada
E cantar depois do boer

Toca lá ó Bertlameu
Essa guitarra de pau-santo
Mostra lá, como faço eu
Que o fado é um encanto

Tenho um burro munto esperto
Mai esperto ca um fàdista
Canta melhor qu’ o Adeberto
Toca harmónio com’o João Crista

O Mné da Cruz assentou praça
E canta o fado lá na caserna
À viola está uma cabaça
E à guitarra uma lanterna

   Cala-te ó espanta perdizes
Que no fado tu não cabes
Tu não sabes o que dizes
E do que dizes nada sabes

À cantador dum ladrão
Que alças a perna a cantar
Pareces às vezes um cão
A alçar a perna p’ra mijar

À cantador cavalgadura
Pensas tu que me ganhaste
Toma lá as ferraduras
Dos coices que me atiraste

Cantadores desse teu fado
Já estou eu farto de ver
Muitos me têm ladrado
Nenhum me chegou a morder

À porta do Tónho Beleza
Há duas pedras de cantaria
Numa assenta-se a tristeza
E na outra a alegria