Foto roubada ao Eddy
O texto que se segue, é a transcrição da crónica radiofónica SINAIS de hoje, da autoria do jornalista (poeta) Fernando Alves, transmitida diariamente na TSF.
O Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, da Universidade Nova de Lisboa, chama-nos para a mesa já neste sábado. O encontro está marcado para o Centro Cultural Raiano, em Idanha a Nova. O mote: "Da terra à mesa, às mesas do campo".
A iniciativa, coordenada cientificamente pelo antropólogo Vasco Valadares Teixeira, reúne uma boa mesa de investigadores em dois painéis, depois do almoço. Eles propõem-se "valorizar as dimensões de identidade e representação" que turismo e gastronomia contêm. É uma ementa fora da receita habitual. A intenção é mastigar bem algumas ideias. E o interesse temático dos dois painéis de discussão abre apetites, desafia gostos muito apurados.
Escutai e amesendai-vos.
A socióloga Maria Manuel Valagão, que há muito nos desafia para regressarmos ao campo, à mesa, dizendo-nos que aquilo a que chamamos acompanhamento deve ser a base principal, intimando-nos a que descubramos o sabor da urtiga, vai estar em Idanha-a-Nova aludindo ao modo como a tradição e a inovação alimentar podem gerar "novas dinâmicas nos territórios". José Manuel Sobral, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, vai falar da alimentação local como recurso. Inês Ornelas e Castro, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova, aborda a "cultura da viagem: o espaço e a mesa do Outro". Vasco Valadares Teixeira propõe uma comunicação intitulada "A-pelos e penas: algumas notas sobre perdizes". Pedro Prista, do ISCTE, fala de "Hospitalidades e gastronomias". Maria João Figueiredo Forte leva-nos "da cerdeira à cereja do Fundão".
Ora o que é uma cerdeira? Há tantos povoados, por essas serras, colhendo o nome Cerdeira. Há uma Cerdeira no Gerês, outra na Serra do Açor, não longe do Piódão. E o brasão dessa Cerdeira, terra de tibornadas e chanfanas, é uma cerejeira, entre dois cachos de uvas.
Chamam-se Cerdeira, esses lugares, por se situarem onde existem, ou existiam, muitas cerejeiras. Outra coisa não é, pois, a Cerdeira, senão o outro nome de cerejeira, prunus avium com a sua drupa globosa, tão carnuda.
Em Idanha-a-Nova, este fim de semana, à mesa do campo, os sentidos abertos para a surpresa das urtigas. Em fundo, a enorme desigualdade que existe no acesso aos alimentos.
Está à mesa José Manuel Sobral, que muitas vezes nos lembrou o quanto a História da Humanidade depende da alimentação.
Sabes quanta água é consumida para produzir um bife?
Ele tem dito coisa mais amargas que urtigas. Sei lá eu, que nunca provei urtigas… E contudo, às mesas do campo, com a crise em fundo, as urtigas são como as cerejas.
A iniciativa, coordenada cientificamente pelo antropólogo Vasco Valadares Teixeira, reúne uma boa mesa de investigadores em dois painéis, depois do almoço. Eles propõem-se "valorizar as dimensões de identidade e representação" que turismo e gastronomia contêm. É uma ementa fora da receita habitual. A intenção é mastigar bem algumas ideias. E o interesse temático dos dois painéis de discussão abre apetites, desafia gostos muito apurados.
Escutai e amesendai-vos.
A socióloga Maria Manuel Valagão, que há muito nos desafia para regressarmos ao campo, à mesa, dizendo-nos que aquilo a que chamamos acompanhamento deve ser a base principal, intimando-nos a que descubramos o sabor da urtiga, vai estar em Idanha-a-Nova aludindo ao modo como a tradição e a inovação alimentar podem gerar "novas dinâmicas nos territórios". José Manuel Sobral, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, vai falar da alimentação local como recurso. Inês Ornelas e Castro, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova, aborda a "cultura da viagem: o espaço e a mesa do Outro". Vasco Valadares Teixeira propõe uma comunicação intitulada "A-pelos e penas: algumas notas sobre perdizes". Pedro Prista, do ISCTE, fala de "Hospitalidades e gastronomias". Maria João Figueiredo Forte leva-nos "da cerdeira à cereja do Fundão".
Ora o que é uma cerdeira? Há tantos povoados, por essas serras, colhendo o nome Cerdeira. Há uma Cerdeira no Gerês, outra na Serra do Açor, não longe do Piódão. E o brasão dessa Cerdeira, terra de tibornadas e chanfanas, é uma cerejeira, entre dois cachos de uvas.
Chamam-se Cerdeira, esses lugares, por se situarem onde existem, ou existiam, muitas cerejeiras. Outra coisa não é, pois, a Cerdeira, senão o outro nome de cerejeira, prunus avium com a sua drupa globosa, tão carnuda.
Em Idanha-a-Nova, este fim de semana, à mesa do campo, os sentidos abertos para a surpresa das urtigas. Em fundo, a enorme desigualdade que existe no acesso aos alimentos.
Está à mesa José Manuel Sobral, que muitas vezes nos lembrou o quanto a História da Humanidade depende da alimentação.
Sabes quanta água é consumida para produzir um bife?
Ele tem dito coisa mais amargas que urtigas. Sei lá eu, que nunca provei urtigas… E contudo, às mesas do campo, com a crise em fundo, as urtigas são como as cerejas.