sábado, julho 29

22-2006: Férias é ida à terra

Festa de Santo António - Agosto 1982

Estão aí as férias. Há uns anos, significava, isto, ter de cumprir o dever de ir passar uns dias à Terra.
Hoje há outras prioridades e outras vicissitudes, mas os que lá continuam a ir, mantêm o mesmo espírito de há uns anos atrás.
Iamos ver a família e aproveitar a ocasião para rever os amigos que durante o resto do ano andam dispersos por esse mundo cada vez mais pequeno, mas onde cada vez nos reencontramos menos.
A festa traz cá toda a gente e aqui é o ponto de encontro.
Os três primeiros dias são dias de enreio. Sai-se de casa para ir tomar uma bica, e para andar uns escassos 100 metros, demora-se tanto tempo a fazer o caminho que, quando um gajo lá chega, já esta o café frio.
Enreios são mais de mil, mas são todos bons. Temos de cumprimentar e retribuir. É a manifestação da estima que reciprocamente se mantém e faz matar saudades aos já não se viam há uns tempos.
Enreios são também os convites a que não nos é permitido resistir, fruto da amizade que nos liga. Depois do abraço vem logo o esticão do... aguenta aí.
- Entra cá e bebe aqui um copo; vá lá, mai um "catcho" de chouriço.
- Agora vamos à minha casa!
E podemos lá nós fazer a desfeita de atravessar aqueles seis metros de rua.
- Queres uísque ou ricardo?
Isso de oferecer vinho foi água que há muito ano passou por baixo da ponte da Toula.
Para o Zé Manhouvas, que está na França, vai para vinte e tal anos, só mudaram os hábitos do que se põe à mesa. De resto, quando cá chega parece que o tempo parou durante todo aquele período. Recomeça a viver como se tivesse feito um interregno para continuar a vida do dia anterior. A França, apesar do trabalho "cansado", parece mais um local de hibernação para os emigrantes do qual acordam quando chega o mês de Agosto.
- Pega aí, queijo e uma trancha de jambom, vai! Este é de Baiona. É do melhor que lá há, mas no venham cá com merdas. Não chega aos calcanhares daquele que se tirava da salgadeira, com dois dedos de gordura, e com um naco a acompanhar uma gaspachada fresca à sombra de uma sobreira, era manjar de abade.
Vamos então todos ao café e lá encontramos mais uns frascos. Renovam-se os cumprimentos, fala-se das nossas vidas, contam-se mais umas histórias antigas, peripécias passadas e vem sempre à baila a lembrança dos que de certa forma esqueceram a terra e lá vão esporadicamente.
Depois inevitavelmente, relembra-se aquela história, que se conta um pouco por todo o lado, da rapariga que deixou a vida de pastora, tendo ido muito nova servir para Lisboa. Voltando, passados alguns anos, como que atacada pela síndrome do snobismo, já não distinguia um rebanho de ovelhas de uma cabrada.
Logo de seguida vem a comparação com episódio do Monarca que, dizia ele, habituado à vida da cidade já lhe custava refazer-se à terrinha e renegava por completo as suas orígens.
Espernicava-se todo para falar à moda alfacinha, tentando disfarçar o sotaque característico da aldeia que ainda conservava e, atraiçoando-o, lhe deixava transparecer algum complexo. Aquele pormenor era, para ele, como a marca idelével deixada por um ferro em brasa de identificar o gado.
O Monarca, convidado por dois amigos para beber, aceita de bom grado e entra na taberna.
Acercam-se do balcão. Ele fica ligeiramente para trás, como que a medo de lá encostar a barriga, mas de repente, numa ostentação de vaiadade...
- Eu é que pago!
- Atão o que é que vai? – pergunta o ti Bata.
- Um copo diz o Cravoeiro.
- Um traçado, que a hora ainda não está para esfregas – diz o Margaça
Atão e tu Jxquim ?
O Monarca que lá por lisboa se habituara a beber fino, pediu.
- Serve-me aí um vermute!
- Verimute? Qual verimute qual merda. Aqui no s’usam panelêrices. Bebes vinho cmós outros e mai nada.
Mesmo assim o João Bata ainda lha deu a escolher:
- Queres simples ou traçado?
Aqui fica o programa das festas de Toulões 2006, estando os leitores desde já convidados a participar.
Dele não constam os nomes dos artistas mais caros, mas sim dos bons, estando também implícita a hospitalidade das gentes de Toulões.
POVOS DAS REDONDEZAS, VENHAM À FESTA!
BOAS FÉRIAS A TODOS QUE EU TAMBÉM VOU!

1 comentário:

Al Cardoso disse...

Boas ferias para si tambem.

Que pena eu nao puder ir tambem a minha aldeia, e a festa anual esta ja ai ao dobrar do calendario.

Como eu adorava estar ai no dia 15 de Agosto.

Paciencia sera para o ano.

Um abraco.