sábado, fevereiro 3

4-2007: Desmancho



É ponto assente que o aborto mexe connosco.
E não é para menos dada a importância que revela, estando em causa, decidir ou não, pela condenação de uma mulher por ter tomado a opção de abortar, porque, de algum modo, carrega uma barriga "prenha" de angústias, como se não pudesse dispor da sua liberdade.
Quanto ao que se pede na pergunta ao referendo, a informação que vai chegando, não sobre o que se pergunta em si, que é concreto, mas sobre o acto de abortar, vinda principalmente dos extremos que radicalizam posições, de tal foma, que criam um ambiente tão nebuloso que deixam o povo votante cada vez mais baralhado, levando-o a abster-se do interesse pelo assunto.
Com todas as questões de ética levantadas, o problema do aborto parece apenas um digladiar de argumentos entre a ciência e a religião, não esclarecendo sobre a verdadeira utilidade do voto nem nem sobre o problema fundamental: o bem-estar da mulher que decidiu abortar.
O aborto ou desmancho (termo que se utiliza mais por aqui) sempre se fez pela calada, utilizando os mais diversos métodos abortivos, todos tão perigosos e em condições que sempre deixaram marcas, tanto físicas como emocionais, pondo, quantas vezes, a sua vida, periclitante, nas mãos misericordiosas de Santa Quitéria.
As mulheres que decidirem abortar, deverão poder fazê-lo, dentro dos limites que a lei lhes confere, em condições sanitárias decentes, mas se
tiverem de o fazer fora da lei, que a espada, em cujo gume brilha o ponto 3 do artº 140º do Código Penal, não seja desembainhada para lhes cortar a dignidade.

14 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Chanesco:

O que está em causa é a despenalização da IVG dentro das condições que a lei prev~e e que estão contidas na pergunta areferendar.
Todo o aproveitamento político e religioso que se tem feito à volta do referendo só servirá, de facto, para confundir e levar ao abstencionismo.
O que está em causa é bem simples: descriminalizar as mulheres pela prática da IVG ou continuar a considerar tal prática como um crime, punível à face do actual Código Penal.
Votar "não" é deixar tudo como está e sempre esteve, abortos clandestinos,desmanchos em curiosas que têm(tantas delas) enriquecido exactamente porque a prática de tal acto sempre foi ilegal no nosso país.

Como já disse e escrevi, voto clara e conscientemente SIM à despenalização criminal da IVG,nas condições enunciadas na pergunta do referendo. Porque acredito que nenhuma mulher o fará por gosto, porque entendo que o pior que se pode fazer a um ser é não o desejar, porque quero contribuir para o fim da hipocrisia beata de condenar nos outros aquilo que muitas fizeram, e se nunca o fizeram foi porque não tiveram necessidade ou sempre tiveram meios de dar aos filhos o que eles precisam, sejam quantos forem.

Um abraço.

MaD disse...

Amigo Chanesco
O que se está a passar com este referendo sobre a despenalização do desmancho, como também aqui se diz, revela bem, para além dos preconceitos religiosos e de alguma incapacidade da ciência, a mesquinhez de grande parte dos portugueses, a começar por políticos de grande nomeada.
Deixemo-nos de querer castigar - mais por maldade que outra coisa - os que pensam de forma diferente da nossa ou que nem sequer podem pensar muito, dada a miséria em que a hipocrisia dos outros os mantém.
Um abraço.

Barão da Tróia II disse...

Passei para desejar uma excelente semana.

MPS disse...

Chanesco:

indo directamente ao fim do seu artigo e lendo a pergunta submetida a referendo, se uma mulher abortar em local clandestino continuará a ser punida por lei! Que pergunta tão infeliz! Como podem os defensores da despenalização bater-se por ela?

Um abraço!

eddy disse...

Caro Chanesco

Estou completamente de acordo, é a única solução para um problema humano, demasiado humano e não partirizado. Ao contrário do NÃO, TALVES; NÃO, SECALHAR; NÃO, MAS; NÃO, ASSIM ASSIM; NÃO, CONTUDO...etc..etc. Vamos ter a coragem para resolver de vez esta injustiça. Faça-se uma pesquisa pela história da mulher e da sua luta por diversas causas, tais como: luta pela emancipação, igualdade no trabalho, na politica, na educação, enfim...esta é, talvez a mais longa, das suas árduas lutas. Basta, chega, de instrumentalizar a mulher, ela têm o direito de decidir. Deixem-se de religiosidades ocas, de politicas à "el ditador" e tenham a coragem de mostrar uma democracia saudável...ao mundo. Dizer NÃO, ainda radica mais esta realidade.

um abraço

eddy disse...

Peço desculpa, onde se lê "partirizado" deve ler-se "partidarizado".

bettips disse...

Sinto-me orgulhosa por te conhecer. De gostar de ti e do que escreves! Tudo é a Natureza mansa que fala e não penaliza, segue os seus ciclos. Abç

Anónimo disse...

Agora que o aborto se chama interrupção voluntária da gravidez, sorri imediatamente quando vi o título do artigo: “Desmancho”!

É que a campanha foi um autêntico desmancho e desmando! O referendo, esse é um verdadeiro aborto! Óptimo fim-de-semana.

ricardo disse...

...excelente post!
abraço

ps-para quando um post sobre o ecoparque?

Tozé Franco disse...

Gostaria de saber o que vai acontecer se não votarem 50% dos eleitores.
Bom Domingo.

Anónimo disse...

então...
que se "desmanche" a lei.

Fragmentos Betty Martins disse...

Será mesmo que alguma coisa vai mudar para melhor - para a mulher?

Beijo com carinho
BomFsemana

Anónimo disse...

Passei para ver se havia novos artigos e desejar bom fim-de-semana.

a d´almeida nunes disse...

Valha-nos Santa Quitéria!
Tanto dinheiro gasto para se chegar à "conclusão" que a Assembleia da República é que tem que legislar sobre a matéria! Mas onde é que estava a dúvida?
Porventura nos perguntam se estamos de acordo ou não com as leis da República, aprovadas quantas vezes com os votos favoráveis de um único partido?
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Um abraço
António