domingo, junho 1

13-2008: Dia Mundial da Criança

Este quadro foi pintado por uma "criança" de 75 anos, no âmbito do programa de ocupação de jovens e menos jovens das aldeias do concelho de Idanha-a-Nova promovido pela Biblioteca Viver Mais Idanha.
Digo criança por essas pessoas terem voltado aos "bancos da escola", algumas se calhar pela primeira vez, com uma vontade férrea de alargar horizontes para lá do que é visivel do cimo do talefe, empinado no alto da Serra da Morracha.
Para todas foi o primeiro contacto com a informática, com os livros coloridos (não sabendo ler, vêem os bonecos) e com as artes decorativas, bem diferentes das rendas e bordados em que algumas são exímias no manejar da agulha.
Desse primeiro contacto com a pintura (ressalvando as inúmeras caiadelas dadas à fronte da casa em vésperas de festa) resultou este naïf, genuino, executado por uma das "alunas", quase podendo ser definido pela prosa poética de Almada Negreiros, assim:

A FLOR

Pede-se a uma criança: - desenha uma flor!
Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala, onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras: umas mais carregadas, outras mais leves: umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: - uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça à procura das linhas com que se faz uma flor e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas – são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!