quinta-feira, março 9

5-2006: Oscar(e)s há muitos


Este é o Oscar. Tem a força de um vículo de tracção às quatro rodas e a preserverança de um burro.


Este post era para ter sido publicado ontem, mas, como "noblesse oblige", o espaço foi gentilmente cedido às senhoras.


No Domingo/Segunda-Feira foi dia de entrega dos Oscars de Hollywood que, como é sabido, premeia todos os anos, não os melhores filmes, mas os filmes dos amigos, dos amigos dos amigos e outros afins.
Os afins são os que dão garantias de que indumentária propagandista americana vai assentar bem a qualquer mortal do segundo mundo. Sim porque para os americanos só há dois mundos. O deles e o outro.
Por esta altura, vem-me sempre à memória a figura do meu amigo Óscar. Um companheiro de "escola", que se calhar nunca teve uma daquelas estatuetas banhadas a ouro Robialac ou de outra multinacional qualquer, desde que seja americana, por não ser amigo dos amigos dos afins. Era, isso sim, amigo dos amigos verdadeiros. Tinha sempre uma laracha que, acompanhada de uma palmada no ombro ou um abanão pelo cachaço, dava ânimo ao mais deprimido.
Um autêntico comediante, (entretainer ou lá como se diz agora). Exímio contador de anedotas e outras estórias, que eu nem sei se as inventava ou onde é que as ia desencantar. Parecia que o saco não tinha fundo.
O meu amigo Óscar José, de seu nome completo Óscar José de Almeida Alho, era tratado naturalmente pelo Óscar Alho, mas os mais próximos, como era o meu caso, tratavam-no amigavelmente por "Oscaralhinho". Ou por sugestão do seu próprio nome ou por maluqueira intuitiva, um dia aparece-me com uma lista de nomes estrangeiros, que lidos de enfiada, são muito bem entendidos cá no nosso burgo à beira Espanha plantado.
Uma vez, por exemplo, arranjou logo aqui ao lado um espanhol de Alcantara que se chamava o Paco Niña e outro de Zarça Maior que era o Paco Nassa. Tinha um primo, casado com uma Francesa, que tratava a mulher por "ma petite Minette".
Era um rol que nunca mais acabava.
Lembro-me ainda de nomes como eram o caso do Estoutaki Estoutapolos da Grécia, o Zépa Panescu da Roménia, o Ereshk Abraão de Israel, etc.
Falava-me também de nomes de atletas participantes nos jogos olímpicos de Munique 1972. Ele era uma nadadora russa que dava pelo nome de Ludmila Kossakova, um lutador Coreano pelo de Xu Pa Lee, dois ginastas japoneses que se chamavam respectivamente Iroku Takaro e Iroku Zito. Havia ainda um cavaleiro inglês chamado John Facebrush que, dito com a sonoridade da língua inglesa, faz lembrar tudo menos escova de dentes.
Passávamos nós em frente a uma loja de móveis e antiguidades que há ali na rua do Faz de Conta nº 69, mesmo ao lado de uma afamada firma que tinha sido montada, já havia uns anitos, por dois sócios de Belmonte que era a A. Bramão & H. Raky, senão quando, olhei para a montra e parei, embasbacado. Não para apreciar a decoração, que até era bastante rudimentar, mas porque uma placa branca atriu a minha atenção.
Disse eu cá, não para os meus botões, mas para o meu íntimo que fica por debaixo deles.
- De facto não haja dúvidas. O mundo é mesmo redondo e com fitinhas atadas nas arestas para assinalar as coincidências.
Era uma tabuleta, colocada em cima de um divã, encostada á cabeceira, com fundo branco frigorífico e letras vermelhas, bem garrafais, onde se podia ler:

MÓVEIS CAMA SUTRA
Gerência de:
ADOLFO DIAS
E
ALICE FARIA LEITE

INTÉRPRETE PARA FORASTEIROS
Ausentou-se para ir confirmar junto da Conservatória do Registo Civil se o nome Chanesco deriva do Romeno.

quarta-feira, março 8

4-2006: Dia 8 de Março, D I M


O post de hoje é dedicado a todas as mulheres, mas especialmente a esta que foi buscar força às tripas para sobreviver ao nascimento do único filho que criou.
Também à memória da ti Firmina que teve 12 e criou 9.

domingo, março 5

3-2006: Agradecimento aos Xendros

- XENDRO -
Toutinegra dos valados (Sylvia melanocephala)
Foto comprada na net ao JViana, sem falar com ele
Outros XENDROS em: http://basagueda.blogspot.com/
Não sei como são os xendros que saciam a sede em Baságueda, mas os que que esvoaçam entre o mofedo, pelas margens da ribeira Toula, são assim.

Fiquei extremamente congratulado ao verificar que os Xendros dedicaram um post de boas vindas aqui ao Chanesco.
É caso para dizer: à primeira cagadela (perdão: cavadela) minhoca.
Não esperava, de todo, uma recepção destas para uma primeira vez.
- Até me doeram a asinhas do coração.
Para um novato nestas andanças, como é o meu caso, não é para menos, ao ponto de ter metido os pés pelas mãos, ao querer criar espaço para encaixar este post, elimineando o de apresentação, na perspectiva de que eliminava apenas o rascunho editável.
É bem verdade que só os calendários é que não aprendem computadores.
É que este cantchal de alma gelada que aqui tenho, com um cérebro que parece ter vindo dos confins de um Inferno arreganhado, ainda me perguntou se eu tinha a certeza de que de que o queria eliminar, mas eu, tchanesco, achando que ele não tinha nada que estar a questionar a minha decisão, dei-lhe uma martelada no Enter e olha ... foi-se definitivamente.
Voltei a cria-lo de novo, mas ficou desordenado. A apresentação ficou invertida, ou seja; a carroça do post 2 ficou à frente da mula do post 1. Lá tive que repor a ordem nesta confusão para mal dos comentários. Para tchanesco, tchanesco e meio.
E como dizia uma vezo padre Basílio, nado criado em Vila Boa (Bragança) , minha terra de adopção, onde a filosofia popular é do mais refinado que há:
- Quando a ignorância é santa não precisa ser benzida.
- Então e a abençoada, padre Basílio? - perguntava eu.
- Essa já o é de per si.
Tchanesco o padre, hem!
INTÉRPRETE PARA FORASTEIROS:

arreganhado; cheio de frio, enregelado

calendário; burro velho

cantchal; pedregulho, grande rocha

doerem as asinhas do coração; expressão que significa ficar comovido

mofedo; mato muito denso, silvedo, emaranhado de coisas


1-2006: Em jeito de apresentação


Minha terra é Toulões

Tanto eu como outros vós
Sou vizinho de Alcafozes
Terra que eu adoro tanto
Ao lado fica Monsanto
Idanha-a-Velha
, Medelim
Estas tamém são p´ra mim
Terras de muita valia
Monfortinho, Penha Garcia
Ficam já detrás da serra
Segura mais Salvaterra
Arrumam mesmo à fronteira
Rosmaninhal e Zebreira
Ficam lá mesmo no outeiro
Temos depois o Ladoeiro
Terra que me é querida
Aldeia de Santa Margarida,
Onde já enchi o farnel
Mesmo ao pé de São Miguel
Que da Acha é pertença
Também Oledo e Proença
E no concelho de Idanha-a-Nova
Toulões é uma freguesia nova.
JOSÉ LOURO, Abril de 1951

Estes versos foram feitos de improviso pelo ti Zé Louro, grande poeta popular e invulgar cantor do fado ao desafio, para celebrar a elevação de Toulões a freguesia em Março de 1951, numa festa ali realizada em Abril desse ano.
Tanto estes como outros versos do autor ficaram gravados na memória das pessoas de Toulões, que ao londo dos tempos os foi dizendo e cantando nas mais diversas ocasiões.
Chanesco (tchanesco): Esta palavra não tem significado definido. Tanto quer dizer parvo como esperto ou os dois em simultâneo. Terá de ser entendida de acordo com o humor de quem a profére ou com a entoação que lhe imprime.