Digo criança por essas pessoas terem voltado aos "bancos da escola", algumas se calhar pela primeira vez, com uma vontade férrea de alargar horizontes para lá do que é visivel do cimo do talefe, empinado no alto da Serra da Morracha.
Para todas foi o primeiro contacto com a informática, com os livros coloridos (não sabendo ler, vêem os bonecos) e com as artes decorativas, bem diferentes das rendas e bordados em que algumas são exímias no manejar da agulha.
Desse primeiro contacto com a pintura (ressalvando as inúmeras caiadelas dadas à fronte da casa em vésperas de festa) resultou este naïf, genuino, executado por uma das "alunas", quase podendo ser definido pela prosa poética de Almada Negreiros, assim:
A FLOR
Pede-se a uma criança: - desenha uma flor!
Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala, onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras: umas mais carregadas, outras mais leves: umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: - uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça à procura das linhas com que se faz uma flor e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas – são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras: umas mais carregadas, outras mais leves: umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: - uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça à procura das linhas com que se faz uma flor e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas – são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!