sábado, junho 6

11-2009: A caminho da EUROPA

Caminho de SEGURA (fronteira com a Europa)
Não pensava publicar este texto no dia de hoje, devido ao respeito pela reflexão que a lei obriga a guardar em véspera do acto eleitoral, não fosse ele, à ultima da hora, influenciar alguém a não ir votar. Mas como isto de eleições já não é o que era e o respeito pelos valores da cidadania parece ter ido a banhos, houve quem antecipasse os resultados enquanto eu gatafunhava estas linhas. Assim, realizadas as eleições, e depois de anunciada a vitória em toda a linha do seu vencedor, José Eduardo Bettencourt, estas parece terem ficado resolvidas.
Assim sendo, olhem, ...lá vai disto:
Alguém disse uma vez: "Desde a invenção da imprensa, esta tem servido a reis, eclesiásticos e governantes para controlar e manipular a opinião pública".
Acompanhando a evolução da imprensa através dos tempos desde a original máquina de Gutemberg, famosa por ter dado ao prelo a primeira edição impressa do famigerado jornal da caserna, revolucionando a forma de transmitir as notícias ao conferir-lhe o cunho da credibilidade (o que vem escrito em jornal não tem discussão), a história revela-nos esta verdade como insofismável. Hoje, graças ao avanço tecnológico que desenvolveu os meios de comunicação, fontes de polémica e lutas intestinas pelo seu controlo, o mesmo se verifica relativamente à televisão, a caixinha mágica que nos entra casa adentro e que dizem ter mudado o mundo.
Então, em tempo de eleições…ui,ui. Alegando o bem-estar do povo, é um "vê se te avias antes que eleitor te descubra a careca".
Com mais uma campanha eleitoral, cada partido pôs na rua a máquina de propaganda eleitoral, atido à influência exercida pela televisão junto dos potenciais eleitores. Para os elucidar sobre as vantagens de uma Europa Unida, a sobriedade e o bom senso deram lugar ao folclore. Aqui a palavra é coisa vã e todos os partidos fazem questão de usar a cantiga do cigano, tanto para embarrilar adversários políticos como para fazer chegar a sua mensagem a um eleitorado que, à força de tanta oratória caída à rua, já acredita mais no que dizem as pedras da caçada.
Em abono da verdade, são os pequenos partidos que, bombos da festa ou não, e nem sequer se podendo dizer que vão a votos para ajudar ao colorido das campanhas, não recaindo sobre estes a auréola redentora proporcionada pelos holofotes da televisão, pretendem ser esclarecedores e tentam fomentar o combate à abstenção. Contudo, sente-se-lhes no discurso, mais ou menos moderado, o pensamento nas legislativas que se aproximam e o tilintar dos 12 ou 13 euritos que vale cada cruzinha à frente da sua sigla .
Quanto aos partidos ditos maiores, circunstancialmente dizem o que convém, falam do acessório e omitem o principal. O debate para discutir a Europa, incentivando o apelo ao voto, parece mais ir mais no sentido de convencer aos abstencionistas a se manterem fiéis aos seus princípios, fica para depois de conhecidos os resultados eleitorais. Com mais ou menos votos, a ocupação dos 20 e picos lugares que cabem a Portugal no Parlamento Europeu pouco importa, já que esses, mais lugar, menos lugar, estão antecipadamente garantidos e com
salário de deputado Europeu melhorado.
Quanto aos discursos, que pretensamente se querem esclarecedores, alguns até os podemos considerar sem qualificação já que, pela maneira como os oradores, candidatos, atropelavam as palavras, não houve a possibilidade de dar credito à sua voz.
Veja-se o caso do secretário geral do PS (ou seria o nosso Primeiro - é que ainda não consegui entender esta destrinça de cargos) que, demonstrando um estreitamento cada vez maior entre os dois povos da península, se deslocou propositadamente a Valência para, com o seu homólogo espanhol, abrir em simultâneo a campanha eleitoral das Europeias nos dois países irmãos (em simultâneo é como quem diz: primeiro em Espanha e sete horas depois em Portugal).
Não fora a televisão, tanto espanhóis como portugueses não teriam tido a grata oportunidade de apreciar a eloquência de José Socrates a discursar num escorreito castelhano, espernicado numa pronúncia quase tão boa como a do ti Zé Domingos, daquela vez quando, em tempos de contrabando, entrou na igreja de Portage para negociar a carga do café com o padre da paróquia.
-
Cónho senhor cura, osté tiem que me pagar mais um catchito.
- Habla de espacio, José, que no te entiendo.
- Que inveja tengo dos crios espanholes que, com 4 o 5 anhitos, todos sabem hablar melhor que ió
– pensava o ti Zé em voz alta para o padre ouvir.
Depois de esmiuçado o discurso, concluiu-se que todos os espanhóis conseguiram perfeitamente entender a última frase: "Viva España, viva a Europa".
Para retribuir a generosidade a Sócrates, José Zapatero (não sei se o nome lhe assenta em redundância combinada com el sombrero de charro do Zapata, ou se alguma adjectivação a qualificá-lo como mau tocador de rabecão) veio abrir a campanha europeia no comício de Coimbra. Zapatero, num português tão límpido como as águas que flúem entre as margens do Mondego, e que até terão levado mais um pouco de desalento aos pescadores da Figueira da Foz, conseguiu esclarecer toda a gente do que é o ideal europeu e as vantagens de ser participativo na vida eleitoral Europeia. Com a sua característica bem espanhola de arrebatar simpatias, conquistou a dos portugueses, reforçando-lhes a opinião de que a Europa é para ser discutida pelos europeus e não pelos portugueses.
Para rematar este discurso, especialmente dirigido a "noestros hermanos", termina com dois emocionados vivas: "bibá pòrtugal, BIBÁ ESPAÑA!!!"

9 comentários:

MPS disse...

Caro Chanesco

Bendita ironia que nos põe a rir de coisas tristes. Ou será figuras?

Eu já votei. Para mim é um ritual fazê-lo logo de manhãzinha. Sabe-me bem e sinto saudades dos tempos em que tinha que ficar à espera que os tantos que estavam à minha frente votassem. Agora, mal chego, já estou despachada.

Não responsabilizo, apenas, oas partidos. A vida é de nós todos e de cada um e ninguém tem o direito de se esquivar. O voto é um direito para aqueles que o não têm, mas é um dever para todos os outros que, regaladamente, vivemos sem as amarras das tiranias.

Um abraço

Mare Liberum disse...

Não fosse o teu texto carregado de humor e ironia ainda não teria conseguido rir hoje.Que tristeza! Longe vão os tempos em que todos , com orgulho, usávamos o nosso direito de votar e não esquecíamos que estivéramos proibidos de o fazer durante mais de quatro décadas. Era ver um burburinho logo pela manhã,cumprindo um dever domingueiro como muitos cumprem o da missa dominical.
Hoje, está tudo amornecido e lamento que assim seja. Onde estão os grandes culpados?

Um abraço desta cidadã que já cumpriu o seu dever.

Bem-hajas!

Joaquina S. Celestino disse...

Completamente de acordo com os dois comentários anteriores! Também eu ri(o que até não faço com grande facilidade) mas também senti a tristeza de chegar à mesa de voto e...nada ,nem uma alminha à minha frente.Ai se todos tivessem sentido, como noutros tempos, quão triste era não poder votar e tivessem vivido ,
um pouquinho da luta e sofrimento para tal se ter!!!..
. Visitas ,para todos...
Joaquina

eddy disse...

pouco ou nada ouvi dessa europa dos vivas...os discursos foram dominados pela fúria do mal-dizer do "outro" que tudo faz mal. e a discussão coerente sobre a construção dessa europa de "todos" mais uma vez ficou para as "próximas" eleições...

um abraço

Patch disse...

Pois deixem que vos diga que gosto muito de ser bicho, assim não preciso de mentir a dizer que votei, porque, mesmo que quisesse ( e eu sou um felino instruído!)a lei não me autoriza o dever cívico.
Sei, pelos meus donos, que pequenos partidos ´são tão amigos do tacho quanto os grandes, têm é a vantagem de poder prometer mais, já que as probabilidades de cumprirem são reduzidas e assim, mentem à fartazana, na mira do mesmo: o tal saláriozito miserável de deputado( quem não gostaria de o ter?)mais as cansativas obrigações de uma vida frugal e espartanan em Bruxelas-avião-Lisboa. Que canseira!! pelo sim, pelo não, os meus donos votaram porque ainda acreditam que a Europa é a solução. Mas que sei eu, senão miar e ronronar???!!

Anónimo disse...

Vai ver a entrevista com a Alexandra do Bazar do Ronrons, e sabe a realidade dos gatos em Lisboa.
http://esterilizacao-o.blogspot.com/

Tozé Franco disse...

Olá Chanesco.
Bendita ionia. Bem me ri um bocado.
Infelizmente, este texto revela a triste realidade.
Um abraço.

Anónimo disse...

doa noite.tu es de touloes?eu vivi la 20 anos.saudades de infancia bastantes.esse tio jose domingos conheci muito bem.o seu cafe tambem,quando nao havia electricidade em touloes.la jogavamos sueca.lerpa aos rebucados . . .

Joaquina S: Celestino disse...

Então amigo Chanesco,nem uma novidade aí da terra? Nem houve pra aí uns festejos dos Santos Populares?Diga alguma coisa quando puder, para termos notícias da terra.Visitas para todos