quinta-feira, julho 2

12-2009: Ao chegar a Velho


Em tchegando a velho,
Um homa é uma merda
Já nem lhe vale quem o herda
Perde o vigor, perde a posse
Mal mija, dá-lhe a tosse
Encarrapatam-se-lhe as orelhas
Mal vê po’trás das sobrancelhas
A um homa mirram-se-lhe os parentes
Ós poucos caem-lhe os dentes
Já nem tchega c’o escarro à pilheira
Malhar: nem na eira, nem na feira

Em tchegando a velho,
Um homa fica ca alma vazia
À falta de alma, sobra sabedoria
Mas, no sendo mais senhor do seu nariz,
Já ninguém faz caso do que ele diz.
(... palavras dos velhos. Eu só as alinhei.)

11 comentários:

MPS disse...

Meu caro Chanesco

É impressionante como estas máximas em forma de poema nos fazem rir e, ao mesmo tempo, sentir um nó na garganta. Só os muito sábios conseguem tal.

Um grande abraço

Mare Liberum disse...

Ao qu`um home chega quando se lhe assoma o sol posto.
Aqui na terra diz-se: "um pai é para cem filhos mas cem filhos não são para um pai."
Nem sempre assim é mas à cautela convém não esquecer: " quem se deserda antes que morra leva com uma cachaporra".

Palavras de velhos que os novos não devem esquecer.

Bem-hajas, amigo, pelos excelentes textos que nos legas.

Um grande abraço

a d´almeida nunes disse...

Caro Chanesco

Ainda agora venho da "Milai". Tinha lá um poema sobre o "Snr. Leonardo", sentado num banco de jardim, a olhar o rio que passava à sua frente, idoso, com fome, sem ninguém com quem pudesse trocar umas palavras, ao menos isso...
Comoveu-me profundamente esse poema.

Tal como me comoveu este seu texto. Este poema ao estilo tão próprio da sua prosa!

Porque é que a Vida há-de acabar assim? Porquê?!

Porque é que não actuamos de conformidade com o tão propalado adágio popular: "Velhos são os trapos".

Porquê?!...

Uma abraço
António

Joaquina S. Celestino disse...

Viva amigo Chanesco !Valeu a pena esperar pelo seu reaparecimento.Como os «chamados velhos»são de facto sábios...Se a sua vida é triste também é triste verificar que os jovens não sabem aproveitar a sua sabedoria...Talvez se pensassem que um dia chegarão a velhos e terão igual tratamento começassem a arrepiar caminho...A realidade é que as suas palavras alinhadas deram um poema fabuloso e triste de tão verdadeiro que é.Se houver um muito jovem que o leia e se comova ,já valeu ....

Bem-haja e volte sempre

Visitas para todos

Joaquina

António Serrano disse...

Tou tchegando a velho... eu também. Graças a Deus com capacidade ainda para apreciar o muito bem e o muito bom que se passar aqui.
Obrigado

ManuelNeves disse...

Viva!

Lindo! Um poema cheio de humor e verdade.
Obrigado, pela sua força no PopulusRomanus, a verdade é que tenho estado em exames e não me quis dispersar. Mas, breve, breve aí estarei.
Um grande bem-haja e um abraço

Tozé Franco disse...

Olá Chanesco.
A sabedoria popular é impressionante. Pena que se vá perdendo. Valem espaços como o seu que ajudam a preservar a memória.
Um abraço.

Ana Ramon disse...

Mas que poema tão conseguido quando "só" alinhaste as palavras dos velhotes.
Este meu engolir em seco só deve acontecer por já ter passado várias décadas neste mundo. Os jovens não devem ficar incomodados com esta leitura por acharem esse período imensamente distante. Mas um dia acordam e acham-se velhos.
Eu acredito que à medida que se envelhece vamo-nos tornando cada vez mais invisíveis.
Se eu chegar a velhota, gostava que ouvissem as minhas histórias com prazer, tal como ouço as dos idosos com quem converso.
Um beijinho grande

karraio disse...

Bem alinhado Chanesco.

Patch disse...

Estes versos cheiram-me a Ti Louro!!! Ou ..herdeiro, claro!

Anónimo disse...

Excelente recolha etnográfica, passada a poema. Continue e dê voz a quem não a tem. Obrigado