
Em Toulões, no tempo em que a dureza da jorna de trabalho era atenuada ao fim de cada dia com catares à desgarrada, protagonizados por homens com veia poética e voz de trovão, como eram o ti Zé Louro, ti Manuel da Cruz, Ti Tomás Sapateiro, entre outros, esse cantares, acompanhados a copos de meio quartilho, ajudavam a "botar" a crise para trás das costas (e se ela era severa à época) e a encarar o dia a dia com ânimo.
Os versos que se seguem fazem parte da memória dos fàdistas dos Toulões.
Dos Toulões os seus fàdistas
Têm fama em toda a parte
No fado são uns artistas
Pois cantar fado é uma arte
P’ra ser cantador
do fado
E cantá-lo com ardor
Basta ter golas de
galo
E sabê-lo todo de cor
Cantar fado à desgarrada
Não tem nada que
saber
É pedir vinho à canada
E cantar depois do boer
Toca lá ó Bertlameu
Essa guitarra de
pau-santo
Mostra lá, como
faço eu
Que o fado é um
encanto
Tenho um burro munto
esperto
Mai esperto ca um fàdista
Canta melhor qu’ o
Adeberto
Toca harmónio com’o João
Crista
O Mné da Cruz assentou
praça
E canta o fado lá na
caserna
À viola está uma cabaça
E à guitarra uma
lanterna
Cala-te ó espanta perdizes
Que no fado tu não cabes
Tu não sabes o que dizes
E do que dizes nada sabes
À cantador dum ladrão
Que alças a perna a cantar
Pareces às vezes um cão
A alçar a perna p’ra mijar
À cantador cavalgadura
Pensas tu que me ganhaste
Toma lá as ferraduras
Dos coices que me atiraste
Cantadores desse teu fado
Já estou eu farto de ver
Muitos me têm ladrado
Nenhum me chegou a morder
À porta do Tónho Beleza
Há duas pedras de cantaria
Numa assenta-se a tristeza
E na outra a alegria