domingo, dezembro 18


FELIZ NATAL
e
Bom Ano 2017
 

3 comentários:

Anónimo disse...

Feliz Natal e um próspero Ano Novo, como se dizia antigamente, e um saco vermelho de pai natal a abarrotar de hi-phones, como se diz agora!

Fátima Pereira Stocker disse...

Boas-Festas, meu caro Chanesco

António Pires disse...

Um conto de Pós Natal

Uma neve de farrapos, tocada por um forte vento de nordeste, frio e cortante como uma lâmina de barba, não parava de cair de um céu que se mantinha pardacento desde as primeiras horas da madrugada. Era na véspera do dia de Natal. Na taberna do Alfredo Tanoeiro, uma dezena de rapazes solteiros e cerca de meia dúzia de homens casados abrigavam-se da intempérie, aproveitando para matar as horas do fim da tarde, que antecediam a aguardada consoada com bacalhau e tronchudas, jogando o chincalhão, bebendo vinho abafado, por conta da casa, e cavaqueando sem limites nem peias, como não podia deixar de ser num ambiente aquecido por uma grande lareira onde crepitavam os gravetos de grossos troncos de carvalho que ardiam fulgurosamente.
O Domingos Pequeno, sentado numa cadeira de braços junto ao lume, e que ainda não tinha aberto a boca desde que chegara majestosamente ataviado na sua capa de palha de pastor tradicional, sentindo a elevação das vozes num momento mais quente de discussão também quis dar a sua opinião, entrando de rompante:
- Bô!... Eu, desde que dei o salto para Paris em 1970, nunca mais voltei ao Zoio, mas lá de longe um homem, com a barriga cheia, pode ver com mais nitidez os contornos da sua terra natal, se é que me faço entender...
Então, todos aqueles humildes trabalhadores rurais, cuja mundividência não era mais larga do que a rabiça que estavam acostumados a agarrar com força quando era preciso abrir o rego para poder lançar a semente, fizeram um silêncio respeitoso em torno do ti Pequeno, que tinha abalado para França com catorze anos de idade, incompletos, e com uma mão atrás e a outra à frente, mas que agora tinha feito ver a todos, quando, no último Verão, no dia da festa, tinha chegado ao volante de um luxuoso Audi A8 6.0 L quattro, comprado a pronto e com dinheiro vivo, de maneira que todos se ajeitaram o melhor que puderam para acolher, com os olhos muito abertos e os ouvidos muito atentos, o jorro de palavras sábias do conterrâneo emigrante, que não se fez rogado, tendo prosseguido:

- Bô!... Mal cheguei à cidade das luzes, vi logo que os franceses (tanto os gajos, como as gajas) não ligavam patavina à padralhada! Aqui, o pessoal do Zoio tinha de cumprir à risca as ordens do doutor Salazar e dos senhores padres. Era obrigatório ir à missa ao domingo, trabalhar de sol a sol, aceitar com um sorriso nos lábios o salário de merda, pagar o crucifixo pendurado na parede da sala de aula ao lado do retrato oficial do Salazar (sob pena de a criancinha que não levasse o dinheiro ser posta na rua!),... O povo, bem doutrinado pela Igreja, vivia feliz, arrancando da terra agreste, com o suor do seu rosto, algumas batatinhas que lhe iam enganando a fome. Em Dezembro, havia a grande festa do ano, que era o Natal, e então, por uma vez no ano, era permitida alguma expansão na comida que, contudo, raramente ia muito além de uma pequena posta de bacalhau cozido com batatas e couves. Lá, em França, tudo é diferente, o povo vive no luxo e na fartura, com muito champagne e caviar. Por outro lado, as igrejas católicas estão a fechar por falta de crentes, mas o Estado esforça-se por impor ao povo o culto de uma nova deusa chamada “ La République”, cuja festa oficial se celebra no dia 14 de julho, com o povo na rua a beber, a cantar e a dançar.