sábado, julho 7

16-2007: Na Rota das Maravilhas


Núcleo de moinhos de água recuperados no rio Ponsul, a jusante da barragem de Penha Garcia.

A desertificação e o despovoamento do interior são um facto indubitável. Progrediu na proporcionalidade inversa com que se degradou a actividade agrícola, cuja mola real, vítima de pasmo, não deu mais sinais de reacção e ficou sujeita ao cerco da UE, rendida ao sistema de subsídios para não morrer de asfixia.
Mas o futuro, que também passa por aqui, nem todos os dias se apresenta de ar sisudo. Os que conseguirem arrancar-lhe um sorriso, por certo irão ver as suas vidas recomporem-se de tantos e sucessivos tombos e, como não há bem que nunca acabe nem mal sempre dure, (prefiro dizer assim) da desertificação também surgem oportunidades.
À semelhança do sucedido com as nossas aldeias históricas (as Idanhenses), a aposta no turismo de ar livre parece estar a dar uma nova vivacidade a estes pequenos aglomerados populacionais, onde só o relógio da torre parece não ter deixado de acompanhar o ritmo do tempo.
Aproveitando alguns recur- sos com que a natureza graciosamente obsequiou estes locais, a partir desta realidade, gera-se riqueza em benefício desta zona, garantindo melhor qualidade de vida a muito boa gente jovem.
Escarpa quatzítica em Penha Garcia

A prová-lo, está a iniciativa em boa hora tomada pela Naturtejo, empresa intermunicipal integrada por 6 municípios, que se revelou um sucesso.
A apresentação da candidatura de um território que ocupa uma área de 4500 quilómetros quadrados, distribuída pelos municípios aderentes pela qual estão dispersos 16 monumentos naturais (Geossítios - vê-los aqui), foi coroada de êxito no Verão de 2006, ao ser classificada pela UNESCO como "Geoparque da Meseta Meridional".
Para esta empresa, na voz do seu presidente, «o Geoparque Naturtejo é a galinha dos ovos de ouro para os municípios abrangidos.»
E com toda a razão!
Eu, que mantenho sempre algum cepticismo relativamente ao que mexe com esta região, reconheço que este projecto tem pernas para andar. E digo reconheço, não por conhecimento de causa, mas pelo que por aqui se vai observando.
Penha Garcia - Trilobites, rasto de seres marinhos extintos há 250 milhões de anos.
Se hoje pareço ser incoerente com o que disse no post anterior, a realidade é que, neste caso, o investimento privado (criação de infra-estruturas para alojamento e lazer), supera o público (recuperação e manutenção dos locais a visitar) sinal de que as previsões de sucesso foram bem medidas.

A classificação atribuída desencadeou o designado Turismo de Natureza no Centro de Portugal e, pelo seu interesse, justificado com a organização de Rotas pedestres (vê-las aqui) e visitas a monumentos naturais, e outros eventos relacionados, já começou a atrair à região da "Raia Perdida" um grande número de turistas que põem a bulir actividades tradicionais que pareciam adormecidas.
Aqui estou apenas a referir-me ao que constato nas aldeias vizinhas que rodeiam Toulões, todas do concelho de Idanha-a-Nova: (ver Mapa aqui)
Penha-Garcia (Rota dos Fósseis - Parque Iconológico onde as formações rochosas guardam fósseis de seres pré-históricos, Rota do Contrabando e Moinhos do Ponsul), sobre a qual reportam estas fotos, Monsanto (Inselberg Granítico) e Salvaterra do Extremo, Segura e Rosmaninhal (Rota dos Abutres na área protegida do Tejo Internacional) Monfortinho (Rota do Contrabando) sem esquecer algumas que, não sendo abrangidas por este programa, merecem a honra de uma visita.
É o caso de Idanha-a-Velha, aldeia histórica amplamente divulgada por albergar um património histórico de inestimável valor, Medelim (aldeia dos balcões) e Prença-a-Velha (Núcleo Museológico do Azeite) onde um programa cultural com organização da iniciativa da Proençal - Liga de Desenvolvimento de Proença-a-Velha - faz periodicamente reviver as tradições que marcaram a vida dos mais antigos.

Para quem aprecie, tudo isto é vivamente recomendável.
Perder-se também quer dizer deslumbrar-se, mas perder-se e não se achar é deslumbrar-se perdidamente.
Com tanta coisa bonita que há por aqui, nestas férias perca-se por cá. Vale a pena visitar toda esta região de gente aberta e verdadeira.
E se por estas terras vos perderdes e não vos achardes é porque estais em TOULÕES. Não foi bafejada por nenhuma das maravilhas atrás citadas, mas garanto-vos que há muita hospitalidade e simpatia para distribuir.
Aqui, "uma côdea de centeio nunca se negou a quem cá veio, mesmo sabendo que "para o diacho que o amassou, nem uma côdea sobejou".

12 comentários:

a d´almeida nunes disse...

Que maravilha!
E andamos nós, Portugueses, numa roda viva, "todos" contentes, a dar voltas ao Mundo, a maior parte dentro dos aviões e nos apartamentos e praias tropicais, para gozar férias de saldo!...
Um grande abraço, Chanesco
António

Ana Ramon disse...

Olá amigo, estava a ler-te e a lembrar-me do espanto que sentimos quando visitámos Penha Garcia e toda a zona envolvente. Darmos a salvação a alguém que passa e de repente dizermos "Olha, um fóssil!!" ao depararmos com uma cicatriz na rocha pré-histórica. Foi uma viagem de espantos continuados. Acabei de te ler com a saudade a bater no coração. Tenho que lá voltar. Um grande beijinho

nabisk disse...

Caro amigo Chanesco, prometo essa visita no mes de Agosto.
Saudações RAIANAS

Meg disse...

É verdade, anda toda a gente a correr de aeroporto em aeroporto, sem saber das maravilhas que temos cá dentro. Mas também era preciso que houvesse mais gente como tu, que sabes das coisas, e delas falas com uma ternura que nos faz sentir vergonha da nossa ignorância.
Um abraço de amiga

Jorge P. Guedes disse...

Com toda afranqueza não tenho agora tempo para ler este artigo, como merece o seu autor.

Venho para desejar umas boas férias, se for o caso, pois eu assim farei a partir de Domingo.
em agosto, o regresso ás lides e, com tempo então, me debruçarei spobre este texto que creio ser tão bom como todos os que aqui já li.

Um abraço, Chanesco.

bettips disse...

Saudade de ler as tuas crónicas da terra longe! Sabes que me encantou Penha Garcia, mais de que qualquer outra terra mais conhecida por aí? Aquelas pedras, a vila pousada ao sol poente, estende-se com doçura e largueza...pensei que não me importava de viver ali. Um abraço amigo.

Anónimo disse...

Texto impressionante, que se lê com total interesse e satisfação pela sua valia, assim, como sempre, vale a pena visitar esta página, das melhores que temos na blogosfera, boa semana.

ricardo disse...

:)
Optimo post!

Leonor disse...

e com o teu post fiquei a conhecer uma parte bonita de portugal.
abraço da leonoreta

Tozé Franco disse...

Que rico convite.
Já por aí andei, há uns anos, e tive oportunidade de ver algumas dessas maravilhas.
Está na altura de voltar.
Um abraço.

Barão da Tróia II disse...

Que local espantoso, obrigado pela partilha, boa semana.

eddy disse...

Sem dúvida, um lugar mágico!

um abraço raiano