quarta-feira, janeiro 2

1-2008: Tratado novo, vida nova

Aldeia fronteiriça de SEGURA (Idanha-a-Nova), vista da ponte internacional sobre o rio Erges. No Império Romano, esta ponte estava inserida na estrada que servia de ligação entre Mérida e Braga.
O ano de 2007 acabou como acabou!
Bem ou mal, só o tempo dirá se o Tratado Europeu, nascido em Lisboa, nos trouxe benefícios assinaláveis ou se, como de costume, graças à habilidade portuguesa em negociar, nos temos de contentar com promessas de prosperidade para o futuro.
Mas isso fica para depois!
O que interessa agora é que, feito o registo de nascimento do Tratado Reformador, Portugal no exercício da presidência da EU batalhou para que o seu baptizado fosse celebrado em simultâneo, conseguindo-o in extremis.
Numa pomposa cerimónia (chamaram-lhe cimeira), com a presença de toda a família europeísta a testemunhar o acto, foi-lhe então atribuída a graça da nossa bela cidade de Lisbonne, capital de "ce petit pays" plantado na extrema ocidental do velho continente. Esta peculiaridade, considerada pelo poeta a fronteira onde a terra acaba e o mar começa, deixa nos europeus menos conhecedores da nossa história (e nada interessados nela), a convicção de que nem somos carne nem somos peixe.
Para estes, o local de onde saíram homens destemidos, que se aventuraram por mares nunca dantes navegados, em viagens que à escala da época corresponderiam às viagens espaciais de hoje, trazendo notícias do achamento de novos mundos que tornaram Portugal maior, não passa de um pequeno país de emigrantes e pescadores de bacalhau, marinheiros que nunca meteram calado a romper por águas para além da Trafaria.
Este esforço, feito para que tudo corresse de feição, viu-se recompensado. Portugal foi colocado na prateleira da história da EU, pelo feito de ter conseguido reunir 27 países pertencentes à família europeia em redor de um projecto comum: o tradicional retrato de família.
É, em sentido lato, aquilo a que podemos chamar: trabalhar para o boneco.
São momentos como este, descurando a divulgação do documento às populações, a única parte que importa registar.
Para assinalar o evento, foi oferecido a cada um dos membros mais chegados desta grande família uma caneta em prata de lei, para assinar, e legitimar, uma reforma que garante a nossa incapacidade reivindicativa e a consequente precariedade da nossa economia, assim como o corte nos investimentos em projectos para desenvolvimento das zonas mais desfavorecidas do nosso Interior, em detrimento de países menos necessitados ou menos periféricos e com menos capacidade negocial que a portuguesa.
Também, pela nossa reconhecida hospitalidade, e por ser Natal, foi oferecido a cada um de nós um alicate obliterador dourado, para fazer mais um furo no cinto de cada vez que formos chamados a realizar um esforço suplementar e, assim, poder aguentar a carestia de vida.
E a generosidade não acabou por aqui!
Com a decisão de ratificar parlamentarmente o documento, fomos poupados à enfadonha tarefa de ter de nos pronunciar sobre o assunto. Efectivamente, essa coisa de ter de ir às urnas, a um domingo, ainda por cima sempre na incerteza em saber de que lado está o gume do voto, que deixa em nós a frustrante sensação de, consecutivamente, ficarmos entalados entre o voto e a parede, é uma chatice.

- Tratado novo, vida nova. O baptizado foi giro, pá. ?
- "Porreiro, pá!, o Tratado de Lisboa ficará na História por abrir novos caminhos no ideal europeu!" 
O pior é que, terminado o fogo de artifício e apagadas a luzes -"calabaça, calabaça, cada qual p´ra sua casa" - Portugal ficou de novo sozinho em Lisboa, entregue a si próprio, a limpar os restos da festa e a arrumar a casa.
Aos Raianos, resta-nos a consolação de a Europa ser aqui ao lado. Facilmente podemos lá ir comprar, por bom dinheiro, os sonhos daqui levados por umas cascas de alhos.
Basta tão só arregaçar as calças e atravessar a Ribeira Espanhola (Rio Erges), com a vantagem de nem sequer ser preciso passar a salto, como fizeram muitos dos que de cá partiram à sua conquista em finais da década de 50.

Com o 1º post deste ano quero desejar a todos um BOM ANO 2008

11 comentários:

Anónimo disse...

Porreiro, pá!

Tudo...

A bem da Nação!

Pá!

Um abraço

nabisk disse...

Bom Ano amigo Chanesco, que 2008 seja mais porreiro.

karraio disse...

Saúda-se a volta do Chanesco.

eddy disse...

Extraordinário post para começar o ano!! Pois é amigo Chanesco, quem decide são os iluminados e cada vez mais todo-poderosos dos direitos dos outros. Veja-se a pompa dessa celebração europeísta numa Lisboa onde todos os dias centenas de pessoas esperam à porta dos supermercados pelos restos...veja-se a cobertura que os media estão a dar às eleições de um mero e singelo banco (BCP).
Como dizia o amigo Zeca "Vejam bem..!

Um abraço

Porca da Vila disse...

Triste consolação a nossa, a de todos os raianos. Mas é verdade, Espanha é já ali, e cada vez olhamos mais para lá...

Um Xi Grande
[Obrigada pela visita ao Braganzónia]

Anónimo disse...

Caro chanesco,

A foto quase dispensava o texto.

Não pecebo por que é que continuamos a chamar ribeira espanhola ao Erges. Metade não é nossa?

M. Ramos

ManuelNeves disse...

Viva!
Que dizer?... Excelente texto, cheio de oportunidade apontando caminhos para 2008. Porca miséria! Tantos balões, tantos balões, a fanfarra a tocar, e o pão!... O pão!... de tanto aumento começa a escassear.
Que se lixe! Portugal é grande e o seu Povo de brandos costumes.

Um Abraço
Obrigado pela visita ao PopulusRomanus

Tozé Franco disse...

Caro Chanesco:
Embora com algum atraso, quero dar-lhe os parabéns pelo magnífico texto, sobre o Tratado e a Europa à qual pertencemos, acho eu, pois a placa deixou-me algumas dúvidas.
Um abraço.

Anónimo disse...

Tem um bom ano tambem ;)
(que bem merecemos...)

Anónimo disse...

Por causa dessa coisa enfadonha de ao domingo ter de ir a votos é que ganha sempre a abstenção. Depois queixam-se.

Al Cardoso disse...

Resta-nos ou menos a consolacao de poder-nos ir legalmente.
E viva a Europa!

Um abraco d'algodrense.